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Investimentos buscam equilibrar ambiente em startups | Mulheres de negócios


O percentual é ainda menor quanto mais a análise avança no funil do ecossistema. Entre unicórnios, empresas cujo valor de mercado alcançou a casa do US$ 1 bilhão, só duas têm mulheres entre fundadores: o banco digital NuBank e a Pismo, plataforma de tecnologia de pagamentos criada em 2016 e vendida para a Visa no ano passado por US$ 1 bilhão. O destaque no campo financeiro, entretanto, é fora da curva. “Mulheres empreendem em área de domínio, como moda, beleza, alimentação, estética e serviços”, afirma Ana Fontes, CEO da Rede Mulher Empreendedora (RME).

Além da restrição por nicho, elas recebem menos recursos, já que o ambiente investidor também é essencialmente masculino e o número de investidoras e programas focados em mulheres ainda é incipiente. Nos Estados Unidos, por exemplo, só 2% dos recursos são direcionados a startups lideradas ou fundadas por mulheres, segundo o Pitchbook 2022.

Mas há avanços apoiados por iniciativas como mentoria, aceleração e investimentos voltados a elas. A Microsoft, por exemplo, criou em 2020 o fundo de investimentos em participações WE Ventures, com cotistas como Suzano e Positivo, e que hoje contabiliza R$ 60 milhões. Metade dos aportes do fundo foi para iniciativas com pelo menos uma mulher no capital social e em diretoria executiva. A primeira delas foi a WE Impact, um venture builder para promover estruturação que já apoiou 2 mil mulheres e realizou quatro investimentos, entre eles, na Venox, uma logtech (de logística) de entregas realizadas por mulheres.

Iniciativas dessa natureza ajudam a romper barreiras, e cada vez mais investidores vêm percebendo o potencial de companhias com mais diversidade. “A exclusão de mulheres da liderança limita o potencial de inovação das empresas”, diz Wana Schulze, head de investimentos e portfólio da Wayra Brasil e Vivo Ventures. A Wayra tem exemplos de investidas com mulheres entre fundadores, como a Gupy, uma “scale-up” (startup a caminho de se tornar unicórnio) de recursos humanos onde 40,8% do time, incluindo CEO, COO (operações) e CTO, são mulheres.

A Gupy conseguiu levantar R$ 500 milhões em 2022 e criou o Máfia do Moscatel, um grupo que já reúne 60 fundadoras de startups em tração para oferecer networking e mentoria. Mariana Dias, CEO e cofundadora da startup, lembra que sexismo e falta de representatividade, como ser minoria em uma sala com executivos, afetam a autoestima e o acesso a investimentos por parte de mulheres empreendedoras.

“As mulheres ficam aliviadas quando veem uma mulher no comitê de avaliação de investimento”, afirma Carol Paiffer, cofundadora, presidente e diretora da área de investimentos da Atom Participações, que trabalha no relacionamento com os investidores e é uma das poucas empresas dirigidas por mulheres listada na B3. Ela fundou o Bossanova Ladies, pool focado em comitês de mulheres que prioriza investimentos em empresas com fundadoras ou time feminino, ou voltadas para o ambiente feminino.

Em 2019, antes de entrar em operação, a Theia enfrentou dificuldades para convencer homens sobre a existência de problemas que afetam gestantes. Mas conseguiu levantar US$ 2 milhões com Kaszek e Maya, primeiro fundo liderado por mulheres no país. Posta em pé, a ideia atraiu operadoras como Bradesco, Porto Seguro e Amil. Em 2022 a startup recebeu mais R$ 30 milhões, a maioria da 8VC, e hoje perto de 90% de sua equipe é formada por mulheres.

“Mulheres em liderança enfrentam estereótipos”, avalia Simone Madrid, cofundadora da Top2You, plataforma de mentoria on-line com capacidade de conectar 150 profissionais, de CEOs de multinacionais a surfistas de ondas gigantes. A empresa tem clientes como Vale, com a qual colabora para ampliar a presença feminina. Mesmo as irmãs Daniela e Juliana Binatti, sócias da Pismo e responsáveis por tecnologia e produtos, respectivamente, enfrentaram perrengues como a não admissão em reuniões virtuais onde outros sócios já estavam presentes. Hoje, elas já percebem um ambiente mais favorável para as mulheres, principalmente por conta de exigências de clientes relacionadas a práticas ESG (ambientais, sociais e de governança).

A JC Capital, de Jennifer Chen, atua com captação de recursos no exterior para setores diversos, incluindo startups. Como conselheira da Unidroid, por exemplo, facilitou a conexão entre a startup de soluções robóticas, cuja CEO é Fernanda Morelli, a um investidor. Chen também participa de um fundo de investimentos para startups do agronegócio.

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